Na fase inicial do movimento
neoplasticista, deu-se ênfase à colaboração entre a arquitetura e a pintura. No
entanto, isto gerou confusão em alguns aspetos, porque se é certo que a
arquitetura e a pintura se estão a tornar cada vez mais indistinguíveis, não
faz sentido dizer que devem iniciar uma colaboração.
“O
artista verdadeiramente moderno sente conscientemente a abstração da emoção da
beleza: conscientemente ele reconhece que a emoção da beleza é cósmica,
universal. Este reconhecimento tem como consequência uma expressão plástica
abstrata – e conduz o artista ao que é exclusivamente universal. O neoplasticismo não pode, portanto,
manifestar-se como uma representação (natural) concreta, a qual – mesmo quando
contenha uma visão universal – sempre se refere mais ou menos ao individual,
ou, pelo menos, oculta em si o universal. Ele não pode encobrir-se com o que se
caracteriza o individual – a forma e a cor naturais -, mas deve vir a
exprimir-se na abstração na forma e da cor – na linha reta e na cor primária
definida.”(11)
Assim, o neoplasticismo é uma relação expressa
plasticamente de modo definido no plano estético.
“A vida moderna como um
todo, com sua tendência à introspeção, pode refletir-se de modo puro no quadro.
É na pintura – na pictórica, não na pintura decorativa – que se interiorizam
até a abstração tanto a expressão plástica como os meios de expressão
naturalistas.”(11)
A livre disposição dos meios de expressão
plástica é privilégio particular da pintura uma vez que a escultura e a
arquitetura é menos livre nesse aspeto. As outras artes são menos livres até no
processo de elaboração dos meios de expressão plástica.
O neoplasticismo na pintura permanece sendo pura pintura, ou
seja, os meios de expressão continuam a ser a forma e a cor: a linha reta e a
cor plana permanecem como sendo meios de expressão puros da pintura.
Além disto, no neoplasticismo está intacto o vínculo entre o
espírito e a vida e, por esta razão, vemos o neoplasticismo não como a negação
de uma vida plena, mas como a conciliação da dualidade de matéria e espírito.
Segundo Piet Modrian em Neoplasticismo na Pintura e na Arquitetura ao
considerarmos que a consciência humana cresce em direção à definição, se a
vemos – no tempo –desprendendo-se do individual ao universal, então é lógico que
o neoplasticismo não poderá retornar à forma – ou à cor natural.
Por isso, é lógico a composição
deixar o artista maior liberdade para a subjetivação. O ritmo das relações de
cor e medida (em determinada proporção e equilíbrio) faz aparecer o absoluto na
relatividade do espaço e do tempo.
Da manifestação da arte abstrata, podemos
concluir que apenas agora teve início o equilíbrio na relação entre o interior
e o exterior do Homem, o natural e o espiritual no mesmo.
Reduzir a paleta cromática à cor primária
transforma a manifestação mais exterior da cor na mais interior. Se, das três
cores primárias, o amarelo e o azul são as mais interiores, o vermelho é a mais
exterior.
No neoplasticismo, a cor não se intensificou apenas porque
foi reduzida à cor primária, mas também porque aparece como plana.
Quadro 2 –
Contrastes. Wassily Kandisky, Do
Espiritual na Arte
Estes planos são, tanto por sua dimensão
(linha) como por seus valores (cor), capazes de expressar espaço sem uso da
perspetiva visual.
O neoplasticismo expressa a essência do
espaço através da relação entre um plano de cor e outro; toda ilusão perspetivista
é abolida, e os artifícios pictóricos (como a criação de atmosfera, etc), são
excluídos.
Como a cor surge de forma pura, plana e
separada, o neoplasticismo expressa diretamente a expansão, isto é, expressa
diretamente a causa da aparência espacial.
“Porque
nada é mais concreto nem mais real do que uma linha, uma cor, uma superfície…
uma mulher, uma árvore, uma vaca são concretos no estado natural, mas, no
contexto da pintura, são abstratos, ilusórios, vagos, especulativos – enquanto
um plano é um plano, uma linha é uma linha, nem mais nem menos” - Theo van
Doesburg
O neoplasticismo defendia uma total
limpeza do espaço na pintura, reduzindo-a aos seus elementos mais puros e
procurando as suas características mais próprias. Devido à necessidade de
realçar o aspeto artificial da arte, os artistas deste movimento usaram apenas
cores primárias (vermelho, azul e amarelo), assim como o branco e o preto
(inexistentes na natureza). O neoplasticismo excluí o individualismo excessivo
e reduz a pintura aos elementos constituintes da linha, do espaço e da cor.
“Piet
Mondrian e Teo Van Doesburg preconizaram uma arte pura, clara, objetiva, não
ilusória e não representativa (...) utilizou formas geométricas (quadrados e
retângulos), estáticas, pintadas a branco, preto e cores primárias, limitadas
por linhas verticais e horizontais a negro, formando planos geométricos puros e
ortogonais.” (12)
(11) Mondrian, P., Neoplasticismo na Pintura e na Arquitetura.
São Paulo: Cosac Naify. 2008
(12) Pinto, A., Meireles, F., Cambotas, M. (2009). História da Cultura e das Artes 3ª Parte. Porto: Porto Editora, 52.
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